sábado, 23 de outubro de 2010

A Fotografia e a História do Negro no Brasil


Luiz Renato Vieira

O objetivo da seção Capoeira, Cultura e Sociedade consiste em trazer para o leitor da revista Praticando Capoeira, a cada número, informações sobre publicações e pesquisas relacionadas à capoeira, às tradições culturais brasileiras e à história da população afrodescendente no Brasil. Dessa forma, pretendemos fornecer subsídios para enriquecer as discussões sobre esses importantes temas nos círculos de praticantes e profissionais de capoeira.

Em nosso trabalho de divulgação cultural e científica, não temos a pretensão de levar ao leitor textos extensos e informações detalhadas; afinal, isso não seria possível em pequenos artigos, e fugiria aos propósitos da revista. Pretendemos, isto sim, divulgar fontes e informações gerais sobre os temas de interesse de capoeiristas e outras pessoas envolvidas com as tradições culturais brasileiras para que os interessados possam avançar em seus próprios estudos e pesquisas. E, além disso, temos a intenção de estimular a leitura e a troca de idéias sobre a história da capoeira e das nossas tradições culturais entre os praticantes e profissionais da capoeira, por acreditar que esse é um complemento indispensável para o capoeirista nos dias de hoje.

Neste artigo, trazemos para o leitor uma breve informação sobre um livro recentemente lançado, que traz contribuição inestimável para a divulgação dos estudos sobre a história do negro no Brasil. Trata-se do volume intitulado O negro na fotografia brasileira do século XIX (Rio de Janeiro : George Ermakoff Casa Editorial, 2004), elaborado pelo pesquisador George Ermakoff.


O livro se divide em duas partes. A primeira é composta de quatro capítulos: Tráfico e comércio de escravos, Sonho de liberdade, O cotidiano no olhar dos viajantes e Movimento abolicionista. A segunda parte intitula-se Século XIX: a fotografia brasileira, os negros e os fotógrafos e traz parte significativa do acervo produzido pelos principais fotógrafos que se dedicaram a registrar imagens do negro no Brasil no século XIX, incluindo verdadeiros mestres da fotografia, como Marc Ferrez, Christiano Júnior, João Goston e Juan Gutierrez de Padilla. Para cada um dos fotógrafos há um pequeno texto biográfico, destacando a importância de seu trabalho no registro da época em que viveu.


Conforme destaca o autor, o livro cobre um período relativamente pequeno, pois a invenção da fotografia foi anunciada em Paris, em 1839, e foi trazida para o Brasil em 1840, pelo abade Louis Compte. Como se sabe, a arte da fotografia teve, no Brasil do século XIX, como seu mais ilustre incentivador, o Imperador D. Pedro II. Tal era a sua percepção da importância da fotografia como registro histórico que, ao ser deposto e exilado, em virtude da Proclamação da República (1889), o Imperador doou à Biblioteca Nacional uma coleção de 23 mil fotografias, que compunham o acervo que organizou de 1840 a 1889. Algumas dessas fotos são reproduzidas no volume de George Ermakoff.


O livro O negro na fotografia brasileira do século XIX apresenta, no total, aproximadamente trezentas e quarenta imagens, obtidas pelo autor em longo trabalho de pesquisa em coleções públicas e privadas. A maior parte desse acervo fotográfico já é de conhecimento de historiadores e outros estudiosos do assunto. Entretanto, é a primeira vez que material tão rico e diversificado torna-se acessível ao público em geral, por meio de edição na forma de livro.


Os capítulos do volume são acompanhados de interessantes textos sobre diferentes aspectos da vida do negro no século XIX. Textos concisos, mas que trazem boa informação histórica e são complemento importante para a contextualização das imagens. O livro conta, ainda, com uma versão dos textos para o inglês, o que facilitará o acesso de pesquisadores estrangeiros, que não dominem o português, às informações que traz.

O volume é rico em imagens do dia-a-dia do negro, incluindo diversas situações rurais e urbanas, caracterizando diversos ofícios exercidos pelos escravos e negros libertos, situações cotidianas e alguns registros de folguedos e de instrumentos musicais. Infelizmente, não apresenta imagens da prática da capoeiragem ou de outras danças-lutas praticadas pelos escravos e seus descendentes no século XIX. Entretanto, para nós, capoeiristas, uma foto apresentada no livro tem um interesse especial. Refiro-me à que aparece na página 66 e é datada de aproximadamente 1887. Nela, aparece um homem com um berimbau. Certamente, trata-se de uma das mais antigas fotografias de um negro brasileiro com o instrumento que se tornou o símbolo da capoeira.
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VIEIRA, Luiz Renato. A fotografia e a história do negro no Brasil: a pesquisa de George Ermakoff. Revista Praticando Capoeira, São Paulo, p. 30-33,1 jun. 2005.