Por solicitação de uma revista especializada em capoeira, preparei esse breve comentário sobre os atributos que entendo como necessários para ser mestre de capoeira nos tempos de hoje. Aproveito para compartilhar com alunos e amigos esse importante tema, nesses tempos em que a capoeira se mundializou e, nessa volta ao mundo, acumulou perdas e ganhos. O texto abaixo não tem outra pretensão senão a de estimular a reflexão e uma postura crítica sobre o tema.
Mestre Luiz Renato
O que é necessário para ser mestre de capoeira? Essa é uma pergunta díifícil de responder. Afinal, a capoeira é uma arte plural, multifacetada, que se expressa por diversos meios e sentidos.
Assim, para ser um mestre de capoeira são exigidos conhecimentos e habilidades em diversas áreas da atuação e do conhecimento humano, como o jogo-luta da capoeiragem, a música, algum conhecimento histórico, saberes sobre as tradições e muito mais. A resposta envolve muitos temas, e precisa de alguma reflexão.
Entretanto, não há dúvida de que há um fio condutor. E, com a nossa vivência na capoeira, podemos perceber que, assim como a capoeira é rica em múltiplas expressões, nem todos dominam todas essas formas de igual maneira. Mas há, sim, algo que nos permite identificar um Mestre: a experiência, a segurança ao orientar um aluno, e a consistência de suas afirmações e atitudes.
Ninguém está mais longe de ser um mestre do que aquele que cultiva a arrogância. Por algum tempo, nós mestres na faixa dos cinquenta anos de idade (nós que iniciamos a prática da capoeira na década de setenta do século passado), chegamos a associar a condição de mestre ao conhecimento formal, e até mesmo acadêmico.
Então, para ser mestre, pensávamos que era necessário conhecer as técnicas de ensino da luta, os fundamentos das várias ciências envolvidas no estudo da capoeiragem. Engano monumental esse, de associar a mestria apenas ao formato do conhecimento que é usualmente mais reconhecido pelas instituições.
Os anos vão passando, e vamos, cada vez mais, reconhecendo a importância dos saberes tradicionais, e da atitude de humildade e respeito que devemos preservar diante dos inúmeros desafios que a vida nos impõe. O mundo da capoeira, e a própria roda, está repleto dessas situações, onde o que se destaca é a atitude firme e segura, e não o mero desfiar de um conhecimento que, naquele momento, pode ser apenas a expressão da vaidade humana, ou de algum sentimento ainda menor.
Um verdadeiro mestre de capoeira se faz na vivência real, ao longo dos anos, nas ricas e inúmeras situações em que a nossa capoeira nos coloca na vida cotidiana. Seja na rua, nos espaços institucionais de ensino ou nas academias.
Essa experiência e o enfrentamento das adversidades -- e não aquele contato fortuito, eventual, com a cultura da capoeiragem, mediatizado pela hierarquia e por símbolos como cordas ou títulos -- vai gerando acúmulo e produzindo respeito e admiração.
Aquele que detém esse respeito, se o recebe com humildade, pode se dizer digno da condição de Mestre de Capoeira.
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fotos: Pierre Verger
4 comentários:
A humildade é na verdade o ingrediente base do mestre como de qualquer ser humano em evolução.
grato mestre
Sem dúvida nenhuma, esta resposta é mais correta que já ouvi nas rodas de Capoeira parabéns.
Meu Mestre
Dito isso, encho meu peito pra dizer: Luiz Renato Vieira é meu Mestre!
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