O Prof. André Reis tem um envolvimento de longo tempo com a capoeira. Iniciou a prática da luta na década de 90, e é um dos mais antigos membros do Centro de Capoeira da UnB. Com muito sacrifício e dedicação, aliou o interesse pela arte-luta brasileira com os estudos acadêmicos. Embora já fosse portador de diploma de curso superior na área de letras, cursou graduação em educação física, mestrado em ciências da saúde e, posteriormente, coroou sua formação acadêmica tornando-se doutor pela Universidade de Bristol (Inglaterra). Atualmente é professor da Universidade de Brasília, admitido por concurso público, lotado na Faculdade de Educação Física. Foi o responsável pela introdução, em caráter permanente, da Capoeira Beribazu na Europa, organizando núcleos de ensino na Inglaterra e na Polônia.
Na entrevista que se segue, André Reis conta um pouco de sua trajetória e de seu envolvimento com a capoeira. Que sua dedicação nos sirva de exemplo, e que sua trajetória ilumine e facilite as escolhas dos mais jovens.
Mestre Luiz Renato
-----------------------------------
1. Como surgiu seu interesse acadêmico pela capoeira?
Desde minha formação acadêmica em educação física. Ingressei no grupo Beribazu através da atividade de extensão comunitária que acontecia na Faculdade de Educação Física da UnB. Conheci os professores que ali davam aulas, supervisionados pelo Mestre Luiz Renato. Daí então, direcionei a maioria do referencial teórico que aprendia nas disciplinas acadêmicas de educação física para a capoeira. Assim, procurava fazer relação entre sua história, filosofia, luta-dança com as possibilidades educacionais.
Introduzi a capoeira nos currículos da UnB. Primeiramente, com a ajuda de um professor da faculdade de educação Física – Sílcio Barbosa - desenvolvi o plano de curso da capoeira como PD, Prática Desportiva, dos alunos da UnB. Segundo, após o sucesso da primeira iniciativa, conseguimos aprovar a capoeira dentro do curso de licenciatura em educação física. Assim, criamos a disciplina Metodologia da Capoeira.
2. Seus primeiros trabalhos trataram da capoeira para crianças. Que potencial você identifica na capoeira para a educação infantil?
Em geral, o professor de educação física utiliza recursos diversos para o enriquecimento motriz das crianças. Neste sentido, podemos acrescentar que a capoeira favorece a aquisição de uma ampla cultura motriz – desde as habilidades corporais ou psicomotoras, da sensibilidade musical e do aspecto sócio-pedagógico da capoeira. Como vemos, é uma ação motora que envolve vários elementos que são interconectados: o grupo, a música, os instrumentos musicais, a luta, a dança, ou seja, é uma riqueza vivencial que se interconecta no processo educacional da criança. Por isto, vejo a capoeira como rica fonte pedagógica de aprendizagem da criança e do adolescente. A experiência da capoeira em oficinas pedagógicas infantis na minha formação acadêmica na UnB, contemplou-me com o primeiro livro: BRINCANDO DE CAPOEIRA – RECREAÇÃO E LAZER NA ESCOLA, lançado pela Editora Valcy, Brasília, 1997.
3. Que tipo de contribuição o ensino da capoeira para crianças poderia trazer ao cenário atual da educação brasileira?
Esta questão dá continuidade ao que fora exposto anteriormente. A educação em geral não deve se prender a uma ou outra disciplina isolada. Fala-se hoje sobre multidisciplinaridade ou interdisciplinaridade. Isto significa a compreensão de que o conhecimento específico faz parte de todo conhecimento humano ampliado e que se interconectam ou dão continuidade a outro(s). O pensamento da criança não deve transformado em gavetas ou compartimentos: um para matemática, outro para geografia, etc. A capoeira oferece a interatividade entre educação física, artes cênicas, artes plásticas, educação musical, conhecimentos de história, geografia, literatura. Ao aprender capoeira, fala-se da história do Brasil em todas suas fases de desenvolvimento, as letras musicais são investidas de sentimentos históricos, folclóricos, poéticos, faz-se movimentos compassados e ritmados (ritmo de angola, são bento pequeno de angola, são bento grande). Além disto, considerando os aspectos conceituais, procedimentais e atitudinais, a capoeira possui grande acervo de conceitos a serem aprendidos, procedimentos que devem ser discutidos e aplicados nas aulas e na roda de capoeira. Além disto, por ser um esporte coletivo onde existem trocas de atitudes em uma roda, ela promove o senso ético da vida em grupo e valores que estão intrínsecos.
4. Você realizou uma importante pesquisa de doutorado sobre a capoeira no exterior. Como se desenvolveu essa pesquisa?
Desde minha formação acadêmica em educação física. Ingressei no grupo Beribazu através da atividade de extensão comunitária que acontecia na Faculdade de Educação Física da UnB. Conheci os professores que ali davam aulas, supervisionados pelo Mestre Luiz Renato. Daí então, direcionei a maioria do referencial teórico que aprendia nas disciplinas acadêmicas de educação física para a capoeira. Assim, procurava fazer relação entre sua história, filosofia, luta-dança com as possibilidades educacionais.
Introduzi a capoeira nos currículos da UnB. Primeiramente, com a ajuda de um professor da faculdade de educação Física – Sílcio Barbosa - desenvolvi o plano de curso da capoeira como PD, Prática Desportiva, dos alunos da UnB. Segundo, após o sucesso da primeira iniciativa, conseguimos aprovar a capoeira dentro do curso de licenciatura em educação física. Assim, criamos a disciplina Metodologia da Capoeira.
2. Seus primeiros trabalhos trataram da capoeira para crianças. Que potencial você identifica na capoeira para a educação infantil?
Em geral, o professor de educação física utiliza recursos diversos para o enriquecimento motriz das crianças. Neste sentido, podemos acrescentar que a capoeira favorece a aquisição de uma ampla cultura motriz – desde as habilidades corporais ou psicomotoras, da sensibilidade musical e do aspecto sócio-pedagógico da capoeira. Como vemos, é uma ação motora que envolve vários elementos que são interconectados: o grupo, a música, os instrumentos musicais, a luta, a dança, ou seja, é uma riqueza vivencial que se interconecta no processo educacional da criança. Por isto, vejo a capoeira como rica fonte pedagógica de aprendizagem da criança e do adolescente. A experiência da capoeira em oficinas pedagógicas infantis na minha formação acadêmica na UnB, contemplou-me com o primeiro livro: BRINCANDO DE CAPOEIRA – RECREAÇÃO E LAZER NA ESCOLA, lançado pela Editora Valcy, Brasília, 1997.
3. Que tipo de contribuição o ensino da capoeira para crianças poderia trazer ao cenário atual da educação brasileira?
Esta questão dá continuidade ao que fora exposto anteriormente. A educação em geral não deve se prender a uma ou outra disciplina isolada. Fala-se hoje sobre multidisciplinaridade ou interdisciplinaridade. Isto significa a compreensão de que o conhecimento específico faz parte de todo conhecimento humano ampliado e que se interconectam ou dão continuidade a outro(s). O pensamento da criança não deve transformado em gavetas ou compartimentos: um para matemática, outro para geografia, etc. A capoeira oferece a interatividade entre educação física, artes cênicas, artes plásticas, educação musical, conhecimentos de história, geografia, literatura. Ao aprender capoeira, fala-se da história do Brasil em todas suas fases de desenvolvimento, as letras musicais são investidas de sentimentos históricos, folclóricos, poéticos, faz-se movimentos compassados e ritmados (ritmo de angola, são bento pequeno de angola, são bento grande). Além disto, considerando os aspectos conceituais, procedimentais e atitudinais, a capoeira possui grande acervo de conceitos a serem aprendidos, procedimentos que devem ser discutidos e aplicados nas aulas e na roda de capoeira. Além disto, por ser um esporte coletivo onde existem trocas de atitudes em uma roda, ela promove o senso ético da vida em grupo e valores que estão intrínsecos.
4. Você realizou uma importante pesquisa de doutorado sobre a capoeira no exterior. Como se desenvolveu essa pesquisa?
Antes desta experiência no exterior, cursei mestrado na UnB, onde pesquisei concepções de saúde e qualidade de vida através do ensino-aprendizagem da capoeira. Além do título e da dissertação, publiquei o meu segundo livro – EDUCAÇÃO FÍSICA & CAPOEIRA – SAÚDE E QUALIDADE DE VIDA. Editora Thesaurus, Brasília, 2001, reeditado em 2010. Então, dei continuidade à temática da saúde e da capoeira através de doutorado no exterior. Estudei os efeitos da capoeira para o bem-estar social subjetivo dos praticantes. Realizei doutorado em uma universidade inglesa – University of Bristol – onde introduzi a capoeira e o grupo de capoeira Beribazu como uma atividade dos estudantes daquela universidade. Fiquei lá por três anos e meio. Formei uma sociedade de capoeira – University of Bristol Capoeira Society, tendo a insígnia do Grupo Beribazu. Este trabalho permanece até os dias de hoje.
Esta pesquisa iniciou-se na Inglaterra através de definição da temática e dos fundamentos teórico-metodológicos: saúde, bem-estar, qualidade de vida e como estudar estes aspectos tendo a capoeira como objeto de estudo. Eu precisava de um grupo mais fixo para utilizar como participantes do estudo. As pessoas viajam muito na Inglaterra e os estudantes ficam apenas 3 meses ou 1 ano na universidade. Viajei para a Polônia e tive alunos nativos que não viajavam tanto. Ali permaneci por 1 ano e meio, dando aulas e coletando informações para minha pesquisa.
5. Quais foram as principais conclusões do seu estudo?
Os resultados foram a formação de um sólido espaço para o grupo Beribazu de capoeira – permanecendo até hoje – e uma tese que descreve, interpreta e apresenta como a capoeira constrói consciência de saúde física, social, psicológica, dá senso de pertencimento e ética de vida em grupo.
Os resultados foram a formação de um sólido espaço para o grupo Beribazu de capoeira – permanecendo até hoje – e uma tese que descreve, interpreta e apresenta como a capoeira constrói consciência de saúde física, social, psicológica, dá senso de pertencimento e ética de vida em grupo.
6. Na sua opinião, quais são os principais desafios para a expansão da capoeira na atualidade, no Brasil e no exterior?
Há necessidade de melhor interação entre os acadêmicos e os agentes sociais que historicamente ensinam, praticam, vivenciam e são fonte de informações para a capoeira. Vejo que existe uma lacuna muito grande entre a universidade e a sociedade, onde estão os conhecimentos da capoeira. Não tenho idéia de como isto possa ser realizado, pois ainda existe muita resistência de ambos os lados. Penso que esta interação deve ser responsabilidade do Estado que possui legitimidade democrática e legal para poder aproximar as instituições formais daquelas instituídas informalmente.
No exterior, tenho algumas preocupações com o despreparo daqueles que se transferem e iniciam o ensino da capoeira em culturas totalmente diferente da nossa. Não sei se há valorização da capoeira como um todo ou somente nos aspectos gesto-motores que se esgotam pela prática. Há necessidade de apoio à formação continuada destes agentes, pois representam o Brasil e nossa cultura lá fora. A capoeira é um patrimônio brasileiro que tem uma história de luta e resistência cultural que deve ser resguardada. O processo de internacionalização da capoeira pode trazer conseqüências negativas à compreensão da natureza histórica e filosófica desta arte-luta de princípio africano e origem brasileira e, por isto, um acervo da cultura afro-brasileira.
E-mail: andreluiz_reis@hotmail.com
Brasília, 17 de novembro de 2010.
Nenhum comentário:
Postar um comentário