Luiz Renato Vieira
Sociólogo e Mestre de Capoeira
Nos últimos anos, a bibliografia sobre a capoeira
tem se tornado cada vez mais rica e diversificada. A arte-luta brasileira tem
sido examinada a partir de olhares diferenciados, e os pesquisadores produzem
trabalhos elaborados e profundos sobre suas características e suas memórias. Nesta postagem, entretanto, optamos por retomar um clássico da bibliografia sobre a
luta brasileira. Trata-se do livro Capoeira Angola: um ensaio
sócio-etnográfico, de autoria de Waldeloir Rego, publicado em 1968, em
Salvador, pela Editora Itapuã em
colaboração da Secretaria de Educação e Cultura do Estado da Bahia, e recentemente republicado.
Em suas 415 páginas, o livro é estruturado
em dezessete capítulos, formando, a partir do conhecimento disponível na época
e das cuidadosas pesquisas de Waldeloir Rego, um verdadeiro tratado sobre a
capoeira. Assim, a obra aborda desde temas históricos, como A Vinda dos
Escravos (cap. I) e os Capoeiras Famosos e seu Comportamento na
Comunidade Social (cap. X), até questões relacionadas à presença da
capoeira como tema em diversos tipos de manifestações artísticas: no cinema e
no teatro (cap. XIII), nas artes plásticas (cap. XIV), na música popular
brasileira (cap. XV) e na literatura (cap. XVI).
Entretanto, o ponto forte do livro, como indica seu
título, reside em seu aspecto etnográfico. Para os não iniciados nas ciências sociais, cabe uma explicação. O conceito de etnografia é bem simples –
diz respeito a um tipo de trabalho de pesquisa sobre as formas de viver de um
grupo social em que o pesquisador obtém a maioria de suas informações por meio
da observação direta e, em alguns casos, da participação nas vivências daquela
comunidade. Nesse sentido, além de uma pesquisa histórica (ver o capítulo XII,
intitulado Ascensão Social e Cultural da Capoeira), Waldeloir Rego
realizou uma excelente etnografia da capoeiragem baiana de sua época. Entrevistou mestres, transcreveu cantigas, visitou inúmeras academias,
acompanhou rodas, aulas, rituais e formaturas. Tudo com o objetivo de fornecer
um minucioso retrato da capoeira de sua época. Essa descrição detalhada – que aborda a indumentária, o jogo, os toques,
os instrumentos musicais e o canto
– aparece nos capítulos III a VIII.
Capoeira Angola, no entanto, não é um livro
apenas descritivo das tradições da capoeira. O espírito crítico do autor,
profundo conhecedor da cultura baiana e dos riscos do processo de modernização
que, já naquela época, envolvia a capoeiragem, o faz perceber o início de uma
trajetória que se acentuou bastante nas décadas seguintes. No capítulo XVII (Mudanças
Sócio-Etnográficas na Capoeira), Waldeloir Rego já aponta o processo de
descaracterização da capoeira em virtude das influências do turismo, do apoio
inadequado dos órgãos públicos da época e da mudança do perfil social de seu
praticante. Todas essas, como se vê, são questões extremamente atuais, e que
permeiam o debate contemporâneo sobre a capoeiragem no Brasil e no mundo.
O etnólogo e folclorista Waldeloir Rego, nascido em
1930, faleceu em 21 de novembro de 2001. Embora tenha se dedicado a diversos
temas relacionados à cultura afro-baiana, Capoeira Angola foi seu único
livro publicado. Infelizmente, a obra teve apenas uma tiragem.
Finalmente, ano passado (2015), surgiu uma nova
edição, prmovida pela Fundação Gregório de Mattos. Trata-se de iniciativa que
merece elogio e reconhecimento por parte da comunidade capoeirística.
A obra está disponível para download gratuito na página do Capoeira Viva, de Salvador (http://www.capoeiraviva.salvador.ba.gov.br). Isso facilita enormemente o acesso dos capoeiristas a esse magnífico livro, que, além de todos as
qualidades mencionadas, ainda traz ilustrações de outro mestre: o desenhista e
pesquisador argentino Carybé.
http://www.capoeiraviva.salvador.ba.gov.br/index.php/livros
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Agradeço ao Anadson Barbosa (Salgado, do grupo Cordão de Ouro), o envio do link para ser divulgado junto com os comentários.
http://www.capoeiraviva.salvador.ba.gov.br/index.php/livros
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Agradeço ao Anadson Barbosa (Salgado, do grupo Cordão de Ouro), o envio do link para ser divulgado junto com os comentários.
Um comentário:
Parabéns, pela análise, Mestre Luiz Renato! Também considero essa obra fundamental para o entendimento da nossa Arte/Luta, como um todo! Parabéns pelo Blog! Abraço!
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